Interser #3 | Descrença na solidariedade, cinismo e aceleração (com Moysés Pinto Neto)

O convidado do terceiro episódio do Interser é o filósofo Moysés Pinto Neto. Ele é doutor em Filosofia pela PUC do RS, Mestre em Ciências Criminais (2006-2007) e Especialista em Ciências Penais (2005) pela PUC-RS e graduado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1998-2003). O Moysés respondeu algumas perguntas relativas a vários aspectos de cultura, sociedade e política capitalistas contemporâneos. A primeira delas diz respeito ao bolsonarismo em particular. Esse movimento, segundo ele, carrega consigo a imagem de um mundo que é necessariamente cruel, em que a solidariedade é impossível e que, portanto, qualquer afirmação dela é necessariamente hipócrita. Diante dessa suposta hipocrisia, movimentos como o bolsonarismo adotam a postura do cinismo.

A discussão também explorou de maneira mais ampla essa oposição entre hipocrisia e cinismo, que ele explica melhor no episódio. Existe um tipo de cinismo na contemporaneidade que se manifesta do discurso dos “trolls”, que originalmente eram apenas essas figuras que entravam em discussões na internet com o intuito de atrapalhar e confundir, mas cujo padrão de comportamento agora ganhou maior difusão e poder político. Os trolls, diz o Moysés, produzem uma espécie de um “humor brutal”, que joga na zona de indecidibilidade entre o discurso literal e a piada. E seus críticos, quando tentam reagir, ainda por cima participam de um looping de feedback, assumindo a posição que se poderia chamar de “politicamente correta”: estes trabalham no nível literal e acabam se colocando na posição de polícia moral, sem perceber que o discurso dos trolls opera sobretudo no nível performativo, não no constativo.

Por fim, falamos também sobre a possibilidade – presente, por exemplo, na perspectiva das contraculturas dos anos 1960 e 1970 e os “extramodernos”, como os povos originários, que não buscam solução na dicotomia entre estado e mercado – como que disputando quem é capaz de acelerar mais rápido –, mas sim, de maneiras diversas, rejeitam o próprio tabuleiro “estado vs. mercado”.

Aprofunde
Para ler os textos do Moysés, você pode conferir o perfil dele no Academia.edu e no Medium. Ele também participa do canal Transe no Youtube.

No episódio, discutimos os artigos:

Moysés Pinto Neto. Esquecer o neoliberalismo: aceleracionismo como terceiro espírito do capitalismo. Cadernos IHU, ano 14, n. 245, v. 14, 2016.
Moysés Pinto Neto. Do populismo reacionário ao exterminismo: yuppies, neggers e trolls. Crise e Crítica, v. 2, n. 2, 2018.

Gostaria de apoiar o Coemergência? Estamos no Apoia.se! 😉

Junte-se à discussão