Algumas das conversas que temos gravado no Coemergência, e outras mais ligadas às ciências humanas aqui no Interser, têm abordado diferentes aspectos da vida contemporânea (sem falar na da não-contemporânea): a necessidade de olhar as causas estruturais do nosso sofrimento contemporâneo, de produzir cuidado, conexão e mesmo atuação no mundo não apenas invidualmente, mas em rede, os problemas de uma vida muito acelerada e individualista; o equívoco de pensarmos que o mundo é algo que existe pronto, que os significados e identidades são pretensamente sólidos e estáveis.
Há um tema que quase ninguém que nos ouve deixaria de considerar igualmente importante, que diz respeito às mudanças climáticas e a urgência de ação coletiva em relação a ele. Mas esta edição do Interser discute uma perspectiva mais radical sobre a questão, aquela adotada pelo filósofo francês Bruno Latour. Falando no surgimento de um Novo Regime Climático, mais do que em uma mera crise, Latour considera ser esse o fator sem o qual não se pode entender nenhum aspecto da geopolítica contemporânea. No seu livro mais recente, publicado em 2017 na França e essa semana no Brasil, “Onde Aterrar?: Como se orientar politicamente no Antropoceno“, ele afirma que várias das mudanças ocorridas a partir do fim dos anos 1990 – des-regulação, explosão das desigualdades, negacionismos – surgem da percepção, por parte de certos grupos dominantes, de que a Terra não tinha mais espaço para eles e para todos os demais. Eles respondiam ao fato de que era mais possível crescer, progredir, acelerar indefinidamente – ainda que respondessem negando o problema.
Isso leva a mudanças muito drásticas. Uma delas diz respeito ao que concebemos como natureza. A natureza não pode mais ser pensada como o palco imóvel, dado, onde os seres humanos vivem suas vidas. Mas como, então, compreendê-la? E, se a natureza não é isto que pensávamos que ela era, falar verdades sobre ela também não é o que pensávamos que era. Como pensar, então, sobre natureza e verdade no Novo Regime Climático? Quem nos respondeu sobre estas questões e outras mais foi a filósofa Alyne Costa, que é graduada em Comunicação Social pela UERJ, especialista, mestra e doutora em Filosofia pela PUC-Rio, e pós-doutoranda do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ. A Alyne publicou recentemente o artigo “Por uma verdade capaz de imprever o fim do mundo” e escreveu o posfácio para a edição brasileira de “Onde Aterrar?”. A gente tomou estes textos como base para a discussão, e, obviamente, tentamos imaginar um pouco mais o que seria uma vida mais aterrada.
Referências
Bruno Latour. Onde aterrar? Como se orientar politicamente no antropoceno. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020.
Alyne Costa, “Por uma verdade capaz de imprever o fim do mundo”, Coletiva, n. 27, jan./abr 2020.
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