Um dos diagnósticos mais precisos da atual situação da ampla parcela do mundo humano parasitada pelo capitalismo foi publicado em 2009, e em grande medida ainda elucida muitos de nossos obstáculos: trata-se de Realismo Capitalista, de Mark Fisher. Nesta obra, Fisher delineia o cenário de cancelamento do futuro experienciado pelas novas gerações, presas portanto em uma “impotência reflexiva” e, por isso, entregues a uma “hedonia depressiva”: não vendo horizontes possíveis de ação individual e coletiva realmente transformadoras, elas acabam entregues a uma busca de prazer que se combina com uma grande dificuldade de se dedicar prolongadamente a outras tarefas.
Assim, Fisher estimulava uma tendência, agora em crescimento notável, da politização das questões de saúde mental: se é evidente que indivíduos podem sofrer por motivos diversos, incluindo pessoais e familiares, é também notável que o sofrimento psíquico em um grande número de indivíduos se relaciona com toda a rede de produção e relações em que eles estão inseridos.
O descancelamento do futuro depende de ação coletiva: em um mundo interdependente, indivíduos desconectados inevitavelmente irão exaurir suas energias antes de produzirem transformação efetiva. Por isso, referenciais sobre como se articular com a rede viva com a qual interexistimos são de grande importância. Com Macy, começamos pelo trabalho nas dimensões interdependentes cujo reconhecimento afeta nossas motivações mais básicas, a “partir da gratidão”; isto descoloniza nosso inconsciente do “realismo capitalista”; e, em vez de silenciarmos nossas dores com um hedonismo insatisfatórios, “honramos nossa dor pelo mundo”. E daí torna-se possível “ver com novos olhos” e “seguir adiante”.
O termo “esperança” às vezes descreve um estado impotente. Mas a esperança proposta por Macy é de outro tipo, uma “esperança ativa”. Com ela, em vez de impotência (reflexiva), temos poder. E não o “poder sobre”, que se manteria piramidal e portanto fechado para a riqueza de uma vida aberta à realidade da interdependência: o “poder com”.
Livros da rodada
Realismo capitalista, de Mark Fisher
Esperança Ativa, de Joanna Macy
O método de justapor leituras em grupo
Ao promover a fertilização mútua de abordagens, temos insights que não surgiriam de outra forma. Porque a realidade existe em múltiplos níveis e todos são interdependentes, tem sido muito proveitoso estudar, simultaneamente, um texto em alguma medida sobre questões sociais e outro sobre transformação em primeira pessoa. Nesta terceira rodada, o texto de enfoque social é também um diagnóstico, enquanto o texto com uma dimensão contemplativa é também o delineamento de um trabalho a ser feito; mais um motivo pelo qual a fertilização mútua será muito promissora.
Além disso, ao estudar em grupo, além de gerarmos conexões e participarmos de um espaço seguro de trocas e reflexões, acessamos uma riqueza de perspectivas que jamais acessaríamos sozinhos. Também por isto, como vimos nas duas primeiras rodadas, o estudo em grupo é muito poderoso.
Como funciona o processo?
O grupo é horizontal. A cada semana, uma pessoa se voluntaria para apresentar o seu entendimento do capítulo. Em seguida, ele é discutido em grupos pequenos, e depois as reflexões são trazidas para o grupo todo.
Junto com as trocas intelectuais, fazer algumas práticas de cultivo da atenção, do coração, bem como de descontrução.
Quando será?
Toda terça-feira, de 05/09/23 a 16/01/24, durante 20 semanas, de 19h às 20h30.
Os encontros ficarão gravados para quem não puder comparecer em todos.
Contribuição mensal
A valor é livre (e sem conferência). A generosidade é bastante apreciada e necessária para a viabilização do projeto. Porém, muito importante, ninguém deve deixar de participar por não dispor de recursos financeiros no momento!
Os livros devem ser adquiridos por cada pessoa.
Inscrição neste link.